Jul 23, 2008

Bácoros

Tenho um problema. Um problema que se agrava de dia para dia. Não o problema propriamente dito, mas a minha tolerância para com ele.

Todos os dias, quando chego ao trabalho, entro no meu escritório que partilho com mais 3 pessoas. Uma delas, o meu problema, cheira muito mal... um cheiro nauseabundo característico, resultante de uma mistura ímpar de falta de banho, falta de roupa lavada, excesso de peso e excesso de transpiração. A cereja no topo do bolo é um perfume adocicado que banha todos os outros aromas, potenciando-os.

Sento-me junto á janela, já aberta pela minha caridosa colega, esperando que o vento esteja de feição, e que o meu problema não se mexa para não movimentar o ar dentro da sala. Entretanto o meu outro colega, que se senta junto do problema, liga a ventoinha, orientada de modo a que o ar saia pela porta, na esperança que não volte a entrar. Houve em tempos um dia que chegou a vomitar, e não estou a exagerar... Desde aí um ‘desodorizante de casa-de-banho automático’ com aroma a limão, faz puff de 9 em 9 minutos dentro da sala.

Uma vez que os patrões não tomam nenhum tipo de atitude perante as nossas queixas, e uma vez que todos precisamos daquele emprego, restou-nos unir-nos, como um clã, e todos os dias rimo-nos com troca de comentários irónicos e planos mirambulantes de extermínio.

Ele não fala conosco, tem sempre os auscultadores na cabeça (embora tenha a música desligada), não responde quando lhe falam (porque supostamente está a ouvir música), deixa o telemóvel a gravar as conversas quando sai para almoçar (sózinho), e sabe perfeitamente que cheira mal e que incomoda toda a gente. Faz queixinhas aos chefes, com quem fala sempre e é muito simpático, e quando está sozinho copia o conteúdo pessoal dos outros computadores para o seu.

O meu nível de tolerância está perto do zero e ainda bem que vou de férias. Espero que ele também vá, de preferência para a praia, para se esfoliar na areia, desinfectar-se no mar, apanhar um escaldão, lhe cair a pele toda e nascer-lhe uma nova.

Tenho esperança que quando voltar ao trabalho ele vista uma pele de bebé, limpinha, a cheirar a after-sun...


Jul 21, 2008

Histórias de Encantar

Quando somos pequeninos tudo é muito simples: é preto ou branco. Não existem os conceitos do “entre-linhas” e do “cinzento”, o que facilita muito a percepção do dia-a-dia e das próprias pessoas. E ninguém nos diz o contrário, porque somos crianças e ainda não estamos preparados para compreender... Até nos bonecos animados e nos livros de histórias de encantar existem os bons e os maus.

Depois crescemos para perceber que afinal aqueles personagens nem sempre são tão bons nem tão maus como pareciam. Percebemos que as pessoas são falíveis, “humanas”, e que a vida tem sempre muito que se diga.

Mas eu cresci até aos meus 32 anos para perceber que afinal tinha razão quando criança. Afinal existem pessoas simplesmente boas e pessoas simplesmente más. Boas e más para mim, para outras pessoas não sei.

Bons, são aqueles que me fazem bem simplesmente por existirem. O seu carácter bom não deixa secar as suas almas nem gelar os seus corações, e estão sempre a aprender. São os meus amigos, a minha família, e mesmo aquelas pessoas estranhas que, durante um olhar, um gesto, transmitem grandeza de alma e companheirismo...

Tenho que por defeito somos todos “bons”. Mas existem na minha vida pessoas más, ainda que muito poucas, mas más. Fazem-me mal, sabem que o fazem, não se incomodam de o fazer e não tentam deixar de o fazer... Se lhes é indiferente ou sentem prazer nisso, não sei. Mas têm o terrível hábito de fingir perante si e todos, que não o fazem. E contudo continuam...

A verdade é que para haver histórias de encantar, além de fadas, príncipes e princesas, têm de existir, inevitavelmente, bruxas más, dragões e vilões...


Jul 12, 2008

Outro mundo

Quando era miúda não perdia um episódio do “Sport Billy”, um personagem dos bonecos animados que eu achava fantástico. Era um rapaz destemido, que enfrentava os terríveis vilões nas mais incríveis aventuras. O que me fascinava mesmo era a sua bolsa. Dela, o meu herói podia tirar tudo o que podemos imaginar... desde uma bola de futebol a um automóvel!

Hoje, ao recordar aqueles episódios, o que me impressiona mesmo é que ele nunca tirava algo que não precisasse desesperadamente naquele momento. E era quase sempre algo para salvar o mundo.

Se eu tivesse uma bolsa daquelas faria de certo o mesmo, e ajudaria os meus semelhantes, mas fechava a minha conta no banco, vendia o meu carro e deixava de ir ao supermercado. E quando estivesse farta, tirava uma bolsa igual, traçava-a ao ombro e atrirava-me lá para dentro!