Jun 30, 2008

Ornitologia

Com a idade tornei-me exigente. Quero do melhor e o melhor possível. Não tenho paciência, nem tempo para ter paciência, para menos do que isso.

Gosto mais do “mais vale só do que mal acompanhado” do que “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. Não quero a minha mão suja com cócós, quero que esse passarinho tenha um bom controle do seu esfíncter, o que não se pode pedir a um passarinho... por isso prefiro vê-lo a voar, num bando de preferência, que fica mais bonito.

Isto significa portanto que com a idade tornei-me mais chata, mas, como estou segura das minhas exigências, até dou aquele ar de mulher moderna que sabe o quer e que niguém se atreve a questionar. Pode ser que me safe, e me dêm o que quero, até porque isto de ser teimosa é perigoso e não quero chegar á velhice a tentar apanhar um dos passarinhos que está a voar e convencê-lo a usar fralda...

Jun 25, 2008

Amor

Hoje atravessei a ponte 25 de Abril duas vezes. De ambas as vezes, assim como de todas as outras vezes que a atravessei, lembrei-me do meu pai.

Tinha cerca de nove anos e o meu pai conduzia-me pelas ruas de Lisboa quando pedi que atravessássemos a ponte. Nascida e crescida na Ilha da Madeira, tinha o desejo de atravessar um rio e sentir-me em cima de uma ponte, de uma grande ponte. Como não fazia parte do itinerário, que me era alheio e indiferente, foi-me gentilmente negado.


Recostei-me no assento, triste, mas conformada. Os adultos sabiam sempre o que era certo, restava-me apenas aceitá-lo. Entretanto mergulhei no meu mundo de criança, cheio de pensamentos e de fantasias, sem dar pelo tempo passar, esquecendo inclusive onde estava e para onde ia.


Quando dei por mim estava sobre um grande rio, em cima de uma grande ponte... A minha alegria foi explosiva, e lembro-me de dar pulinhos no banco de trás daquele carro, que não me lembro qual era, naquela dia, que não tenho a certeza qual foi. Mas lembro-me de olhar para o meu pai e de amá-lo como nunca, mais do que aquele rio e mais do que aquela grande ponte.

Obrigada papá.



Jun 17, 2008

Dos ditados...

“Haja paciência, e um paninho para a embrulhar!”. O meu paninho está ocupado com um nó para “atar o rabo ao Diabo” de modo que a minha paciência fugiu...

Jun 12, 2008

Que fazes que não danças?

Durante a minha infância ouvi vezes sem conta a minha avó dizer: “ Que fazes que não danças? Cansas ou não tens par?”.

Tenho pensado muito nisso ultimamente... Par não tenho. Devo pois estar muito cansada. E nem trabalho as 65 horas máximas semanais que a União Europeia permite, o que quereria dizer que entraria às 7h no trabalho e largaria às 19h, com a sorte de poder folgar ao Domingo... E nem tenho de andar a pé porque ainda tenho a reserva do depósito do carro cheia, embora não haja combustível em Lisboa, e ainda posso optar pelos transportes públicos, embora não os haja até o sítio onde trabalho. Por isso não sei porque estou cansada, aliás estou com muita energia, até porque pulei muito quando Portugal ganhou o jogo e nem me lembrei do combustível nem dos transportes públicos que não tenho.
Adoro Portugal, porque ganha os jogos de futebol.


(escrito durante a greve dos camionistas)


A minha próxima vida

Na minha próxima vida quero vivê-la de trás para a frente. Começar morto para despachar logo esse assunto. Depois acordar num lar de idosos e sentir-me melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a pensão e começar a trabalhar, receber logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos até ser novo o suficiente para gozar a reforma. Divertir-me, embebedar-me e ser de uma forma geral promíscuo, e depois estar pronto para o liceu. Em seguida a primária, fica-se criança e brinca-se. Não temos responsabilidades e ficamos um bébé até nascermos. Por fim, passamos 9 meses a flutuar num spa de luxo com aquecimento central, serviço de quartos à descrição e um quarto maior de dia para dia e depois Voilá! Acaba como um orgasmo! I rest my case.


Woody Allen

(obrigada pelo mail Jean)